Quem somos


INTRODUÇÃO
Este projeto busca fundamentalmente mostrar o que é, como e o por quê de tal
proposta na atualidade.
A performance abordada aqui é concebida como uma experiência cultural onde
estão presentes os comportamentos duplamente exercidos ou
comportamentos
restaurados. De acordo com Schechner, são “as ações performadas que as pessoas
treinam para desempenhar, que têm que repetir e ensaiar”.
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Ações como as
artísticas, rituais e cotidianas que requerem habilidade e perícia. Está claro que são
ações que exigem treino e esforço consciente. Segundo o autor, o comportamento
restaurado existe como algo simbólico e reflexivo. Todavia, seus significados têm que
ser decodificados por aqueles que possuem conhecimento para tanto.
Este conceito é interessante, pois possibilita que o seu uso não redunde em
repetições teóricas mecânicas e inadequadas a realidades diferentes de onde e
quando foi criado. É um conceito que não surgiu no Brasil, mas pode ser utilizado de
uma forma original e criativa por sua própria fluidez. Ele aponta para dimensões que
escapam de identificações temporais e espaciais específicas.
Assim, utilizando a contribuição oferecida, percebe-se que a concepção é ampla
o suficiente para permitir um apanhado de relações culturais complexas, sem, contudo,
perder de vista seus focos de atenção.
Nesta acepção enfatiza-se um modo especialmente marcado de ação e
intensidade, um processo, uma prática, um modo de transmissão, uma realização e
um meio de intervir no mundo (portanto, trata-se do “ser performance”), e não
performance só como uma lente metodológica ou uma epistemologia (ou “como se
fosse performance”).
Dessa maneira, a noção de fenômenos performáticos abrange:
a) as performances artísticas: dança, teatro, música, artes plásticas, multimídia,
instalações, happenings, performance art;
b) as marciais: capoeira Angola, kung fu, boxe, jiu-jitsu, karatê, MMA (mixed
marcial arts), etc;
c) as esportivas: escalada, rapel, tênis, arco e flecha, vôlei, etc;
d) e as rituais: festas, iniciações, celebrações, funerais, julgamentos,
casamentos, coroações, posses, paradas, protestos, execuções públicas, etc.
Mediante isto, fica claro que este não é um tipo de pesquisa que tem como
objeto exclusivamente a performance art.2
Na realidade, ela é apenas mais uma
linguagem na vasta gama de fenômenos que são objetos do XAMÃ. Esta proposta
combina a contribuição da antropologia, da história e das artes performáticas, usando
lentes interdisciplinares para examinar um conjunto de atos sociais: rituais, festivais,
teatro, dança, esportes e outros eventos ao vivo. Como o antropólogo Victor Turner
argumentou, através da performance os significados centrais, valores e objetivos das
diferentes culturas são vistos em ação: “performance é um modo de comportamento,
um tipo de abordagem à experiência humana; performance é exercício lúdico, esporte,
estética, entretenimento popular, teatro experimental e muito mais”.3
Entre os seus objetivos estão os de estimular, fomentar e desenvolver trabalhos
que tenham como eixo teórico e prático a noção de performance exposta
anteriormente. Visa também dar suporte às pesquisas no campo da criação artística
que tenham como perspectiva a
geração de conhecimentos técnicos e teóricos
relacionados ao trabalho do encenador, do ator, da ocupação espacial e da
dramaturgia.
O foco interdisciplinar proposto rejeita alguns dos aspectos limitadores
etnocêntricos herdados dos estudos do teatro e da dança ocidental permitindo aos
pesquisadores centralizar suas investigações em formas expressivas que extrapolem
os limites dos gêneros europeus. Isso pode incluir, por exemplo, algumas tradições
como a Congada (Moçambique, Congo, Catupé, Marinheiro, Candombe), o Samba de
Roda, a Ciranda, o Afoxé, o Coco, a Folia de Reis, a Umbanda, o Candomblé e a
riqueza da performance indígena secular e religiosa de todas as Américas.